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Entrevista a Luís Quinta, Fotógrafo - 'Cada animal tem as suas manias'

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Mensagem  Admin Seg 12 Nov 2012 - 12:09

Entrevista a Luís Quinta, Fotógrafo - 'Cada animal tem as suas manias' Luisquintanatureza

O mais conhecido fotógrafo de natureza do País conta os seus segredos para apanhar a fauna portuguesa

Aos 47 anos, Luís Quinta já leva quase duas décadas a fotografar a natureza em Portugal. A sua coleção inclui veados, tubarões, baleias, lobos, uma infinidade de aves e até bichos raríssimos, como a foca-monge. Mas não se julgue que basta ir de máquina em punho para uma floresta à espera que o animal surja. Uma grande parte do trabalho é conhecer ao pormenor os hábitos de cada um. E ter muita, muita paciência

Tem truques diferentes para apanhar animais diferentes?

A fotografia de natureza assenta em três princípios: paixão, paciência e perseverança. Obviamente que lidamos com animais, e a curiosidade é um comportamento dominante em todos eles. O instinto de sobrevivência, a reprodução e a maternidade são assuntos que precisamos de conhecer para saber quando teremos as melhores oportunidades. Depois, há que saber adaptar diferentes técnicas às diversas espécies.

Usa camuflagem, acampa no meio da floresta, tenta fotografar contra o vento...?

De tudo um pouco e muito mais. Trabalho com esconderijos e camuflagens para aves. Faço longas caminhadas para registar paisagens lindíssimas. Mergulho no mar para ficar cara a cara com baleias. Enfim, uso uma série de técnicas e equipamentos para ser o mais eficaz possível. Tento também aumentar a minha rede de colaboradores, que me dão informações preciosas sobre alguns animais. Por vezes, são as pessoas no terreno - cientistas, pescadores, caçadores, pastores - que me dão alguns detalhes que podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso.

Há pessoas que já passaram semanas em parques naturais onde, por exemplo, há lobos, veados ou lontras e nunca viram nenhum destes animais. Como é que os encontra?

Estou no local certo à hora certa. Conhecer a biologia e ecologia dos animais é muito importante. Se conseguir obter mais informação com um residente da zona, ou um cientista ligado à espécie, melhor ainda. Para encontrar veados, por exemplo, terei de pensar num intervalo útil entre as 6 e as 9 da manhã, ou entre as 6 da tarde e as 8 da noite, e tomar atenção aos barulhos que faço, ao vento, aos movimentos. Tudo pode correr bem na primeira hora como posso levar dias até ter a foto ideal. A receita repete-se para tudo o resto. Cada animal tem as suas manias, os seus ritmos, as suas exuberâncias, as suas crenças, os seus locais prediletos, as suas taras.

Quanto tempo pode demorar a encontrar um animal selvagem mais esquivo?

Há de tudo. Já fui na melhor altura, com os melhores guias, com a lição estudada, com bom tempo, e os animais não apareceram durante dias. Já fui para uma zona com o kit mínimo de prospeção e dei de caras com o animal. Na primeira vez que estive nas Desertas, para estudar o cenário onde vivia a rara foca-monge, apareceram alguns animais ao fim de uma hora. Tive cinco a nadar à volta do barco. Fiz fotos fora e dentro de água. A certa altura um casal copulou junto à superfície a dois metros da minha objetiva. Melhor era impossível. Já lá fui mais vezes e nunca voltei a ter um encontro assim. Este ano, estive duas vezes em Santa Maria, nos Açores. Levava na bagagem a ideia de fotografar o maior peixe do planeta, o tubarão-baleia. Ao fim de alguns dias, nada de nada, nem o vi. Na primeira vez, as águas estavam mais frias e os animais andavam para lá das 50 milhas [náuticas]. Na segunda, os grandes peixes andavam perto, a quatro milhas da costa, mas o furacão Nadine e os vendavais não nos deixavam afastar da costa mais do que duas milhas.

Que animal foi ou é mais difícil de fotografar?

Todos os animais oceânicos exigem muita preparação e condições especiais: equipamentos, técnica, preparação física, orçamentos generosos, logística e muita paciência. No meio do oceano, não é fácil encontrar algumas espécies, mesmo que elas sejam de grandes dimensões, como as baleias. E, quando isso acontece, temos apenas uma oportunidade. Não podemos falhar.

E que bicho mais prazer lhe deu apanhar?

Gosto muito de trabalhar com grandes aves de rapina. Todas elas são incríveis e belas. Mas o oceano tem um peso considerável nos meus sonhos e objetivos. Toda a megafauna [animais grandes] me fascina: baleias, peixes grandes, como os espadins, os tubarões, jamantas...

Quando se dirige em trabalho a algum lado, vai em busca de um animal em particular ou segue à aventura e fotografa tudo o que encontra?

Há situações em que levo tudo muito afinado e não dá para improvisar ou alterar os planos. Outras vezes, vou com objetivos mais amplos e com mais equipamento. No mar e com grandes animais não dá para fazer muitas mudanças de guião. Tudo é complexo, custa muito dinheiro e manter o foco bem afinado é bom para obter resultados positivos.

Portugal é um bom país para se ser fotógrafo de natureza, no que diz respeito à biodiversidade?

Temos um território verdadeiramente notável, com uma biodiversidade incrível. Geograficamente, estamos numa zona de fronteira e com várias influências - mediterrânicas, africanas, Norte da Europa e atlânticas. Há muitos animais residentes, espécies invernantes, nidificantes e outras migradoras. Tudo isto dá-nos uma enorme variedade. Em termos de habitats, só não existe alta montanha, acima dos 3 mil metros de altitude. Em contrapartida, temos dois arquipélagos fantásticos, a Madeira e os Açores, em pleno coração do Atlântico Norte. E mudamos rapidamente de cenário. Com trajetos de poucos quilómetros e uma ou duas horas de condução, posso mudar drasticamente de habitat.

O avanço tecnológico facilita o trabalho?


Tecnologicamente, os avanços são enormes. A era digital permite captar muito mais imagens - debaixo de água, posso fazer 400 a 600 fotos, quando dantes tinha 36 exposições por mergulho. O controlo remoto dos equipamentos também se tornou muito mais acessível. E, claro, ver o que se está a fazer no momento, dá-nos a possibilidade de corrigir alguns erros. Além do material fotográfico, há ainda os smartphones, que me oferecem a possibilidade de usar o Google Maps ou outras aplicações que me permitem ver detalhes astronómicos, previsão do tempo, marés, guias de espécies, sons de aves...

Quais as suas zonas preferidas para fotografar?

É difícil responder. Sou um apaixonado por todo o País. Diria que os Açores vêm no topo da lista. Gosto ainda muito da Costa Alentejana, do Gerês e da Madeira.

É mais difícil apanhar animais marinhos ou terrestres?

Há animais difíceis em todos os ambientes, mas o mar, pela sua adversidade para o Homem, acaba por ser mais complexo. Não estamos mesmo preparados para nos sentirmos confortáveis no mar. É necessário muito equipamento e uma boa preparação psicológica. Claro que dar um mergulho na praia é simples. Mas para andar quinze dias num barco à procura de animais fugidios, com vento, sol, ondas e frio, é preciso mais do que entusiasmo.

Que animal mais gostaria de fotografar, fora de Portugal?

Todos os meus sonhos estão em território nacional, mas gostaria de ir à Antártida ver aquele ecossistema incrível, com mamíferos marinhos, aves e cenários naturais fantásticos.

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