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Cágado-de-carapaça-estriada

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Mensagem  Mandrágora Qua 20 Jun 2012 - 0:11

Cágado-de-carapaça-estriada
Emys orbicularis (Linnaeus, 1758)


Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Testudines
Família: Emydidae
Género: Emys
Espécie: Emys orbicularis

Cágado-de-carapaça-estriada Europeanpondturtleonlea

Descrição
O cágado-de-carapaça-estriada é bastante característico pelo seu padrão de riscas amarelas radiais, em casa placa dorsal, sendo o seu corpo e a sua carapaça pretos, cinzentos ou acastanhados.
A carapaça é bastante rígida e abaulada na região dorsal, sendo o espaldar escuro com as tais manchas amarelas a formar um desenho radial em cada placa dorsal. As placas inguinais e axilares são vestigiais ou nulas e as placas anais são arredondadas. O plastrão (conjunto das placas ventrais) é plano e ligeiramente móvel. Apresenta uma coloração cinzenta a amarelada com manchas escuras.
A ligação entre a face dorsal e a face ventral é feita por intermédio de ligamentos cartilagíneos. As extremidades são robustas e com escamas bem visíveis. Possui unhas compridas e membranas interdigitais.
Esta espécie pode atingir os 20 cm, no entanto é mais comum ficarem-se pelo 15 cm.
As diferenças entre macho e fêmea não são muito evidentes, sendo que o macho possui uma cauda mais comprida e mais grossa e o plastrão ligeiramente côncavo. O plastrão da fêmea é ligeiramente convexo.

Comportamento
O cágado-de-carapaça-estriada possui hábitos diurnos e é uma espécie bastante tímida, afundando quando sente algum distúrbio ou ameaça. Pode encontrar-se activo todo o ano mas hiberna em caso de o inverno ser rigoroso e estiva se o verão for demasiado quente e seco e não permitir a manutenção de água nos charcos. Assim, a maior actividade ocorre entre os meses de Maio e Setembro.
Apresenta uma longevidade de cerca de 30 – 40 anos.
Os seus principais predadores são as rapinas diurnas, os corvídeos e as garças, o sacarrabos, o javali e a ratazana. Os juvenis podem ser predados pelo lúcio.

Alimentação
A dieta desta espécie baseia-se essencialmente em invertebrados aquáticos, tendo a capacidade de capturar alimento quer na superfície, quer debaixo de água. Também é comum alimentar-se de anfíbios e suas larvas e de pequenos peixes. Pode ainda alimentar-se de matéria vegetal, sendo os juvenis mais carnívoros que os adultos, e de insectos terrestres.

Reprodução
A maturação sexual nesta espécie é bastante tardia e muito dependente dos recursos alimentares. Os machos atingem a maturidade sexual entre os 6 e os 15 anos, normalmente ente os 6 e os 8, enquanto que as fêmeas atingem-na entre os 10 e os 18 anos, normalmente nunca antes dos 12 anos.
A época de reprodução inicia-se logo após o inverno, mas a cópula só ocorre durante os meses de Maio e Junho. As populações que estivam podem ter um segundo período de reprodução, logo no início do outono, no entanto as crias só nascem, obrigatoriamente, na primavera seguinte.
A cópula ocorre em meio aquático mas os ovos são colocados em terra, num fosso escavado pela fêmea, relativamente afastado da água. As posturas podem ser de 3 a 18 ovos, sendo a média os 6. O período de incubação dura cerca de 80 a 100 dias, no entanto as emergências podem ocorrer apenas na primavera seguinte. Se as temperaturas de incubação forem altas (cerca de 28ᵒC) as crias serão sobretudo fêmeas, quando as temperaturas são mais baixas nascem sobretudo machos. Os juvenis têm um crescimento muito lento, o que explica a maturação sexual tardia.
Em Portugal, muitas populações têm uma baixa taxa de fecundidade, quase não existindo juvenis ou recém-nascidos.

Habitat
O cágado-de-carapaça-estriada está associado a habitats dulçaquícolas ou de baixa salinidade, de águas paradas ou com pouca corrente, sejam permanentes ou temporários. Assim, é possível observá-los em charcos, albufeiras, represas, rios e ribeiras.
Em vários locais, ocorre em simpatria (ou seja, partilha o mesmo local) com a outra espécie de cágado existente em Portugal, o cágado-mediterrânico Mauremys leprosa, sendo a Península Ibérica o único sítio onde se regista a sua coexistência. No entanto, as maiores populações de cágado-de-carapaça-estriada estão associados a charcos temporários, zonas onde não coabita com o cágado-mediterrânico.

Distribuição
Esta espécie encontra-se distribuída pela Europa, Norte de África e Ásia Menor. Na Europa tem os seus núcleos populacionais essencialmente no centro e sul, não ocorrendo nas ilhas Britânicas nem na Escandinávia. No Norte de África encontra-se em Marrocos, Tunísia e Argélia. Na Ásia menor, a sua distribuição vai desde o Nordeste do Irão, Iraque, até ao Norte da Síria.
Em Portugal, a sua distribuição é bastante fragmentada, sendo mais comum a sul do Tejo. A bacia hidrográfica mais importante para esta espécie é a do rio Guadiana, sendo que as populações se encontram principalmente, entre os rios Arade e Guadiana e entre os rios Mira e Arade. Ainda a sul, também existem cágados-de-carapaça-estriada na Ria Formosa. Também é possível observar esta espécie mais a norte, no Paul da Tornada, no Paul do Boquilobo, rio Ponsul e Erges, nas Lagoas do Prado (em Vila Verde) e em Figueira de Castelo Rodrigo.

Cágado-de-carapaça-estriada Distemysorbicularis

Estatuto de conservação
O cágado-de-carapaça-estriada, apesar de mundialmente estar classificado com espécie quase ameaçada (segundo a IUCN), em Portugal encontra-se classificado como em perigo (segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal) sendo já muito difícil de o encontrar devia a encontrar-me muito fragmentada e em declínio continuado.
As ameaças a esta espécie são a fragmentação e destruição de habitat, devido à alteração e destruição dos cursos de água e zonas palustres em detrimento da intensificação da agricultura e da construção de infra-estruturas; a poluição dos cursos de água através das descargas industriais e domésticas e da contaminação dos agroquímicos; a captura ilegal devido a crenças populares, para fins gastronómicos e para construção de objectos ornamentais, e a introdução de espécies exóticas, como as tartarugas de água-doce Trachemys sp., nomeadamente a tartaruga-de-água-doce-americana ou tartaruga-da-Flórida Trachemys scripta.
O cágado-de-carapaça-estriada torna-se bastante sensível às ameaças devido à sua maturidade sexual tardia, bem como às baixas taxas de fecundidade das fêmeas e a uma mortalidade infantil elevada. Desta forma, o crescimento populacional é muito baixo, o que provoca uma baixa capacidade de recuperação quando sujeito a impactos negativos.
Esta espécie encontra-se listada no Anexo II da Convenção de Berna e nos Anexos II e IV da Directiva Habitats. Além disso, este cágado está incluído num projecto financiado pela União Europeia, onde participa com a Espanha, o Projecto LIFE Trachemys, “Estratégias e técnicas demonstrativas para a erradicação de cágados invasores”, com o grande objectivo de erradicar as espécies exóticas e fazer um reforço populacional das autóctones, bem como sensibilizar a população para o problema da introdução de espécies exóticas para a fauna autóctone.


Tartaruga-da-Flórida, Trachemys scripta, a invasora
A tartaruga-da-Flórida é uma das grandes ameaças do cágado-de-carapaça-estriada. Esta tartaruga apresenta características morfológicas, demográficas e comportamentais,
- Maiores dimensões;
- Baixa idade de maturidade sexual;
- Elevada fecundidade;
- Maior agressividade e voracidade;
que lhe conferem uma grande capacidade de adaptação e uma enorme vantagem na competição pelo alimento, pelo espaço na margem dos rios e pelos locais de postura em relação ao cágado-de-carapaça-estriada.
Além disso, a tartaruga-da-Flórida é portadora de várias estirpes de salmonela prejudiciais à saúde humana, o que levou a que fosse proibida a sua comercialização em vários países, como a Nova Zelândia e o Canadá.
Esta espécie é nativa do Norte e Centro do continente americano até ao Norte da Argentina. Em Portugal, os primeiros registos da sua ocorrência datam da última década do século XX. Desde então a sua população tem vindo a aumentar. Isto deve-se ao facto de ser uma espécie que foi muito comercializada e como atinge dimensões consideráveis (20/25 cm), quando se tornam demasiado grandes, os proprietários libertam-nas na natureza. Ao ocuparem o nicho de espécies autóctones, como é o caso do cágado-de-carapaça-estriada, têm um impacto negativo sobre elas, acabando por provocar um declínio das populações de espécies autóctones.
Hoje, existe o Decreto-Lei N.º 565/99 (de 21.12.1999) que regula a introdução na natureza de espécies não indígenas da flora e fauna e veio desta forma, proibir a criação ou detenção em local confinado e a utilização como animal de companhia da tartaruga-da-Flórida.

Cágado-de-carapaça-estriada Trachemysscripta

Bibliografia:
Almeida, N.F. et.al. 2001. Guia FAPAS – Anfíbios e Répteis de Portugal. FAPAS. Porto. pp. 119-120
Loureiro, A. et al. 2010. Atlas dos Anfíbios e Répteis de Portugal. Esfera do Caos, Lisboa, p. 126-127
Oliveira, ME. et al. 2005. Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Instituto da Conservação da Natureza. Lisboa. 141-142

http://naturlink.sapo.pt/Natureza-e-Ambiente/Fichas-de-Especies/content/Ficha-do-Cagado-de-carapaca-estriada?bl=1&viewall=true#Go_1
http://www.arkive.org/european-pond-turtle/emys-orbicularis/
http://www.iucnredlist.org/apps/redlist/details/7717/0

Imagens:
http://cdn2.arkive.org/media/CB/CB1E3B88-2CD2-4DDF-950A-FFE25630D283/Presentation.Medium/European-pond-turtle-on-leaf.jpg
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